Vestígios genéticos ligam africanos a ancestrais fantasmas

Vestígios genéticos ligam africanos a ancestrais fantasmas

26 de Fevereiro, 2020 0 Por Claudio Rangel

O continente africano é tido como a região em que o ser humano surgiu. E as pesquisas cada vez mais comprovam isso. Cientistas liderados pelo biólogo computacional Sriram Sankararaman, da Universidade da Califórnia, encontraram evidências de uma “população fantasma” de homens e mulheres que viveram no continente há meio bilhão de anos.

O estudo foi publicado na revista Scince Advance. Os especialistas chamam de “população fantasma” seres sem evidência física, ou seja, sem restos mortais que os comprovem, apesar da evidência genética de sua existência.

Outra descoberta fascina os cientistas. Os genes desses seres sem restos mortais estão até hoje nos humanos atuais.

Após análise de genomas de população da África Ocidental, os cientistas descobriram que uma boa parte dos genes desses povos desconhecidos permanece no ser humano atual. A proporção é de um quinto da população com estes genes.

A suspeita é a de que houve cruzamento entre seres arcaicos há dezenas de milhares de anos, na África. Do mesmo modo como o ocorrido na Europa, entre europeus e neandertais.

Segundo Sriram, os africanos ocidentais pesquisados possuem ascendência dessa população arcaica desconhecida.

Lemúria e Atlântida

A literatura mística e esotérica indica a existência de espécies humanas diferentes das atuais. Lemúria teria sido um continente habitado por lemurianos, a tempos distantes de nossa cronologia. Os atlantes seriam mais recentes, porém não menos antigos. Textos do passado indicam que muitas espécies humanas já habitaram o planeta.

A convivência entre espécies diferentes de seres humanos teve como resultado os homens e mulheres atuais. Os europeus de hoje carregam no sangue a herança genética neandertal. Australianos, polinésios e melanésios indígenas possuem herança genética do grupo humano arcaico denominado denisovanos.

.A falta de fósseis desses seres humanos arcaicos dificulta a vida dos pesquisadores. Os cientistas Arun Durvasula e Sankararaman identificaram 405 genomas de quatro populações da África Ocidental.

O método

Para concluir o estudo, os cientistas investigaram o genoma africano e parte do DNA diferente dos atuais humanos.

As sequências genéticas descobertas diferem da dos africanos atuais. A conclusão é a de que provavelmente os genes vieram de seres humanos anteriores até mesmo dos neandertais.

“Eles parecem ter tido um impacto bastante substancial nos genomas dos indivíduos atuais que estudamos”, disse Sankararaman. “Eles representam 2% a 19% de sua ancestralidade genética”.

As quatro populações estudadas vieram de três países: dois da Nigéria e um da Serra Leoa e da Gâmbia, acrescentou Sankararaman.

Teorias

A linha de pensamento seguida pelos cientistas conclui que talvez esse grupo de humanos arcaicos tenha existido a 360 mil anos no mínimo e um milhão de anos no máximo. Eles teorizam ainda que cerca de 20 mil desses seres teriam migrado para o continente europeu e convivido com os ancestrais dos neandertais. Na África, a convivência teria se dado nos últimos 124 mil anos.

A pesquisa prossegue. O objetivo é identificar o que os genes desses “ancestrais fantasmas” provocam no ser humano.

“É sempre interessante e útil ver pesquisadores aplicando novos métodos para tentar ter uma ideia melhor de como seriam as populações antigas”, disse John Hawks, antropólogo da Universidade de Wisconsin-Madison.

“É um momento emocionante, porque esses estudos abrem uma janela mostrando que há muito mais do que pensávamos aprender sobre nossos ancestrais. Mas, na verdade, saber quem eram esses ancestrais, como eles interagiam e onde eles existiam exigirá trabalho de campo para encontrar seus restos fósseis e arqueológicos.

“Não sabemos o que essa população africana pode ter sido. É tentador especular. Mas tenho que dizer que é muito cedo para saber. Não descobrimos fósseis suficientes na maior parte da África para dizer que sabemos o que havia lá”.